Homenagens do Cebes Londrina

Dona Rosalina Batista, cidadã e batalhadora*.
     Mineira da cidade de Minas Novas, Rosalina Batista chegou ao Paraná em junho de 1963, acompanhada dos pais e nove irmãos, para trabalhar na zona rural da cidade de Tamarana, à época, distrito de Londrina. Pouco tempo depois, já casada e com três filhos mudou-se para um sítio, próximo da Usina Três Bocas. Em 1979, veio para a cidade, ocupando uma casa no loteamento Franciscato, região Sul de Londrina. Mesmo morando na zona urbana de Londrina, permaneceu durante nove anos no serviço de bóia-fria até que, em 1988, passou a trabalhar como doméstica, vivendo, no dia-a-dia, a dificuldade das mulheres que não contavam com creches ou escolas para deixar os filhos enquanto trabalham. Começou aí a luta por melhorias no bairro. “Naquela época vivi a discriminação de morar num bairro pobre e com fama de violento. Trabalhei seis dias como doméstica, fui demitida e para comprar um ferro de passar roupa no crediário a gente tinha que mudar o endereço onde morava”, contou durante seu discurso na Câmara Municipal de Londrina quando da homenagem e entrega do Diploma de Reconhecimento Público.
     Batalhadora desde a infância, Rosalina Batista assumiu as bandeiras da saúde e da educação como metas prioritárias para os moradores da região sul. Ao lado de outras lideranças viu o bairro transformar-se e assistiu à concretização de projetos ambiciosos que permitiram a valorização de cada membro da comunidade. “Não basta ter uma casa e um carro. Precisamos ser cidadãos reconhecidos pelo nosso valor”, disse a homenageada. Foi com muita luta e dedicação que criou, em 1991, o Clube das Mulheres Batalhadoras, hoje Associação reconhecida internacionalmente, e acompanhou a construção de escolas e creches, do CAIAC, a chegada do asfalto, da coleta de lixo, do transporte coletivo e tantas outras melhorias.
     Em julho de 2002, com recursos da Fundação Kellogg, por meio da Associação de Mulheres Batalhadoras e da Associação Projeto Educação do Assalariado Rural Temporário (Apeart), a comunidade inaugurou a sede da Biblioteca Virtual Comunitária. No prédio, sob a orientação da Associação de Mulheres, são desenvolvidos cursos de qualificação profissional e reuniões para organização da comunidade. Rosalina Batista prossegue no seu trabalho, dirigindo a entidade, atuando como conselheira dos Conselhos Municipais dos Direitos da Mulher e da Saúde e integrando a diretoria do Conselho de Saúde da Região Sul (Consul), entre tantas outras atividades. Na ocasião, Dona Rosalina como é conhecida, afirmou que o prêmio recebido seria partilhado com muita gente do bairro e muitos parceiros que acreditaram nos projetos da nossa comunidade.

* Esta nota foi adaptado do site da Câmara Municipal de Londrina.

Professor Darli, exemplo para todos nós**.
    No dia 21 de setembro de 2009 ele partiu sob protesto, lutando e resistindo até o último minuto, sem nunca ter esmorecido ou desistido de brigar pela vida e pela saúde. Sempre avesso a formalidades e burocracia.
    Com esta perda o Departamento de Saúde Coletiva, o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, o Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESCO) e a própria UEL ficamos todos menores. Muito menores! 
     O Professor Darli Antônio Soares formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP em 1968. Foi um dos professores pioneiros do curso de Medicina e fundador do Departamento de Saúde Coletiva desta Universidade, tendo ingressado nessa instituição em 1970, a convite do Professor Nelson Rodrigues do Santos.
Ele exerceu com competência e dedicação diversos cargos de direção nesta Universidade, tendo sido chefe de gabinete do reitor Prof. Thomson e do Prof. Pedro Gordan  em momentos bastante conturbados e que ele sem aparecer tanto ajudou a superar.
     Participou da criação do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, que acaba de completar 20 anos, tendo formado mais de uma centena de mestres. Coordenou o Programa de Mestrado e ajudou a criar o Doutorado em Saúde Coletiva.
Em sua última semana de trabalho coube a ele a Aula inaugural do doutorado recém recomendado pela Capes, falando sobre o futuro da saúde com a sua visão epidemiológica sempre conseguindo enxergar muito longe e com muita clareza e otimismo.
     O Prof. Darli sempre fez questão de ser também um professor da graduação médica. Nunca abandonou os estudantes de graduação tanto na fase de implantação do curso, como no novo currículo tendo sido instrutor dos módulos do PIN, tutor e articular do processo de mudança.
     Mas foi quando ele levava os estudantes de medicina para o Posto de Saúde da Vila da Fraternidade que ele foi homenageado em vida, pela população daquele bairro que resistiu ao processo de municipalização, porque não queria perder o professor baixinho que as atendia com tanto carinho junto com os estudantes. Sou testemunha junto com a Selma de uma enorme assembléia realizada na igreja em frente ao Posto na gestão do Prof. Lúcio Marchese como Secretário Municipal de Saúde e me lembro da dificuldade de convencer a população de que se manteria a mesma qualidade do atendimento que ele fazia.
     O Darli foi orientador da pós-graduação da grande maioria dos docentes que exercem, atualmente, atividades no Departamento de Saúde Coletiva, inclusive eu, que só consegui terminá-la com a sua segura orientação e participação na minha banca de mestrado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, tendo me ajudado também depois na publicação em conjunto com ele de um artigo científico na Revista SEMINA da UEL.
     No campo da Saúde Coletiva ele tem diversas publicações em periódicos nacionais e internacionais, em capítulos de livros, além de livros que ele organizou, mas quando chegou a Londrina publicou também muita coisa na área da Pneumologia em especial sobre Tuberculose.
     Foi um grande exemplo para todos nós, de dedicação ao trabalho, de ética e compromisso com um mundo melhor, esta fazendo uma grande falta a todos nós, que pudemos  compartilhar da sua experiência e afeto. Que saudades!
Enfim, gostaria de dizer a Cacilda, a Ana Luiza, a Adriana, ao Alexandre e as suas lindas netas, que esta pessoa tão querida de vocês, foi de fato um professor/educador nesta instituição, mas além disso foi também UM SER HUMANO GENTE e jamais será esquecido no Depto de Saúde Coletiva da UEL para sempre.

**Homenagem prestada pelo Dr. João Campos, docente do DESC/UEL.